as algibeiras de virgínia
Trouxe qualquer coisa na algibeira que se abeirava
(disse para consigo)
a uma oportunidade de
– finalmente!
(repetiu)
ser feliz.
Estudou, viajou, sentiu cheiros e sabores, observou. Afinal, não: impossível a felicidade conjugada com o verbo ser. Pôde perceber na poluição dos rios, nos caminhos percorridos sem calçada ou macadame.
Triste porque inacabado enquanto homem
(concluiu),
dirigiu-se ao cume de um relevo sem perceber o abismo. Por simples curiosidade, deu conta apenas do escuro fatal das águas correndo declive abaixo, ao fim de tudo.
Tudo tão no fim, tudo tão declinado e em baixo
(lembrou de dizer para si próprio)
a vida toda feita num abissal baixo, como se o céu desmesuradamente distante das ambições humanas. Tomar a lua foi falsa promessa e conquista?, indagou ainda.
Recolheu-se num gesto de resignação a baixar os braços, e percebeu na algibeira o volume e o peso do que o levou a chegar ali: a oportunidade de se abeirar de algo que teria levado anos a concretizar. Do que foi em tempos. Foi sem tempo que concluiu:são afinal pedras, pesadas, em todas as algibeiras que vem carregando a humanidade.
Súbito, um impulso subiu corpo acima, tremesse embora das pernas e a aflição no peito: era como um sussurro – encosto do espírito da Virgínia!, suspirou, em cautela supersticiosa – a dizer-lhe que o abismo é apenas ar.
Agora, podemos anunciar, já não existe: pairamos sobre ele, como abutres que somos, a observar-lhe os escombros da queda quando soçobrou, como homem que foi, lá em baixo, a julgar os abismos.
Comentários