do maio fecundo
O rio dourado sempre meu confidente soube desse dia de maio
em que as aves anunciaram que a cor do amor é azul. Maio criador, fecundo e
maduro com as searas ainda jovens, jus à pele adocicada dos teus braços alvos
com o sol predicado nos teus cabelos. Inaugurando as brisas de verão a lamber-me
o rosto.
Conheci a pele de pêssego no teu peito, o perfume da giesta no
teu pescoço, e o sabor da amêndoa no teu olhar.
Tudo tão inicial, como qualquer alvorada, em que pude perceber
a geometria dos jardins, pegando na tua mão. Se tremias, eram os abalos em meu
peito; se sorrias, era o fulgor do ouro sobre o meu corpo.
E o beijo, como cavalo selvagem à solta, faminto do feno.
Foi quando nasceram os poemas, tão puros e virgens, esse maio
feliz. Nós ainda meninos, com a esperança de abarcar o mundo. A eterna
juventude da qual afinal nunca parti e onde consigo sempre ouvir a tua voz.
Não será apenas memória ou cadente nostalgia. Estará no
sangue de que sou, no entendimento que tenho do mundo e das mulheres.
Não foi, nem será: é a nossa sexta-feira azul.
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