diluído



modelo: Anelia Poppea

 

há um poema
diluído na água deste verão
suspenso e nocturno
de sabor a álcool com gelo
e dos dedos polpas de carne
e segredo

levo aos lábios a ternura
transpirada do teu pescoço
e esta música líquida refrescando
a madrugada

tropeço com a cabeça na almofada
quente
os teus cabelos são águas
palavras refazendo a atmosfera
de ténues sombras
inquietas

palavras agudas colhidas sem mote
temperando a minha sede
com o orvalho substantivo
da súbita alvorada

escuto o teu corpo
estendido na areia do sono
exalando o perfume natural
da carne e do sangue

a penugem loira e suave
sobre os teus ombros
quebranta o meu olhar pescando
em lentos mergulhos de sonho

o poema que se inventa
do teu ventre
diluído na música que me
acrescenta.

Comentários

Carlos Ramos disse…
Muita qualidade, enche.

Abraço forte.
Teresa disse…
é a água primeira, a original, que aqui escorre

TSC

delírios mais velados