tudo contudo sem palavras




Aqui fico demorado na inconstante prisão do álcool com grandes brilhos de vidro, solicitando nas nuvens a compulsiva esperança de liberdade. Passam as horas,

(ouvi hoje alguém dizer, de olhos fechados, que o tempo é um delírio de deus),

e não sei dizer se estou fatigado, se derrubado, se desperto, se morto enfim e sem conhecer o meu corpo acabado e imprestável. Penso que agarrando assim o ar, fechando o punho com firmeza sobre o invisível, possa resgatar alguma vida e foi como fiz: afinal não sou ainda morto, mas toda a cidade, desde o varandim até ao confim do horizonte poluído, é uma enorme barreira que se levanta.

Pego num lápis rombo e discorro: tudo é escrita e tudo contudo sem palavras que o afirmem; tudo se volta e revolta em mim no contrário do que sou e tudo isto é isto que sei e não tenho como dizer senão que a sombra (redundante sombra!), nestas circunstâncias,

(em que é permanente e físico o delírio de deus),

serve-me como leito ao meu sono de ébria frustração.

Comentários

Anónimo disse…
os meus parabéns, alexandre. é a tua voz inteira neste texto. um beijo.
Obrigado alice, um beijo.

E obrigado a todos os que por aqui passam para me ler. Peço desculpa aos que nos blogues a justa geografia e os sítios de José Alexandre Ramos, deixaram comentários nos artigos, e/ou fizeram ligações aos seus espaços, bem como quem estava a seguir esses blogues. Decidi retornar à primeiríssima forma, que é escrever e editar este blogue que mantenho desde 2005 e para onde sempre escrevi. Na realidade, parte dos textos postados nos últimos blogues foram repescados do que aqui já fora publicado originalmente. Assim, resolvi definitivamente arrumar tudo neste sítio que sempre resistiu às minhas investidas para o encerrar.
Nunca me dei bem com blogues diarísticos, onde opine sobre variadas coisas, e por isso não passei para aqui os posts do "sítios de JAR". Não farei mais desse tipo de artigos, uma vez que compreendo não se enquadrarem neste tipo de blogue e porque me falham as ideias para escrever, opinando, sobre o que vai acontecendo. Também as crónicas não têm espaço aqui, e não pretendo continuá-las, mas a poesia continuará no blogue madrigal sem qualquer compromisso.
A todos a minhas desculpas e o meu agradecimento por me seguirem.

Um abraço,
JAR.
Sílvinha disse…
Que achado encontrar seu blog, suas palavras são um bálsamo aos meus olhos e minha alma, um poeta de sensibilidade rarissima.
Adoro-te!!! Muitas felicidades e um grande abraço.

delírios mais velados