dívidas

foto de Anton Vasiliev


Disseste-me que as tristezas não pagam dívidas. E não pagam, é verdade. Mas quem disse que eu estava triste? Apenas estendo o meu olhar para além das fronteiras, procurando horizontes grávidos de promessas. Promessas que nunca se cumprem. Homens e mulheres rendidos pela força do egoísmo. Sento-me num movimento cansado, apoio desinteressado o rosto entre as mãos e sigo assim durante horas. Com o olhar dirigido a todos e a parte alguma. E portanto não há tristezas nem há promessas. Há somente o meu olhar estendido para além de tudo quanto me é presente. Não é tristeza, sou eu que vou cegando, apanhado desprevenido a invocar a certeza do meu umbigo. Quando me levantar, de rosto composto mas empedernido, verás que não há tristeza alguma. E quanto às dívidas, essas, serão tuas. Serão sempre as tuas dívidas para comigo. Livra-te então de ficares tu triste.

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