vazio



A cadeira vazia e tantos livros por ler. A estante fria à espera de uma carícia, nem que apenas o toque das pontas dos dedos no correr das lombadas, como quem passa a mão no pelo do gato que ronrona um carinho. A estante vazia de afectos, e repleta de livros pedindo a minha atenção. A cadeira, de frente para a janela, evoca momentos passados, com a passagem das intempéries, a incandescência do verão, e a candura das madrugadas.

A cadeira e a estante comungam a mesma dor, enquanto o aparelho de som chora baixinho a música do pó.

Paredes. Papeis. Os quadros, as fotografias. Aqui respira-se sofregamente uma ausência notada. E por isso posso juntar-me aos objectos que se dizem inanimados de afecto: eu vazio e tantos livros por ler, tanta música por ouvir, tanta coisa por escrever.

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delírios mais velados