lírios
Não
(por favor)
não acendas ainda a luz nem corras os estores, deixa marinar um pouco mais esta ressaca na sombra dos meus pesadelos mais recentes, tragados a fel de nostalgia e desespero. O dia fervilha de luz na ombreira da porta e a manhã, sabes
(a manhã que sempre me espantou com a sua boca delicada de lírios)
não iria continuar se me mostrasse plantado entre olheiras neste rosto de granito. Chovesse talvez
(essas pérolas que ainda me adoçam a alma)
e estenderia a mão afugentando o fumo dos cigarros para ver as vidraças tristes, mas bem vês que não há chuva ou correm nuvens de oeste, nem sequer nevoeiros que me ajudem a suportar devagarinho os nós e as correntes que me afligem, a levantar-me desta preguiça visceral de medo, de tudo o que já não ouso respirar. Há o sol
(perguntando duvidoso nos estores da janela)
que aguenta a manhã no brilho das flores e eu sem coragem para te oferecer um beijo, dizer que te amo como se bom dia, qualquer coisa que
(vais dizer-me que não há motivos)
pudesse fazer ou dizer para que não temas, não receies. E não te afastes. Não vejo o teu rosto, bem sei, mas sinto-te o olhar gritando e nos lábios o mesmo fervilhar do sol lá fora nesta manhã de verão. Tudo arde e grita e ama e a minha pele acinzenta-se com golpes de solidão
(a manhã perpetuando as horas na esperança que)
e dizem-me mais uns dias, num risco de voz trémula
(com pena?)
como se isso não fosse o bastante para contar uma eternidade, desde que te sinta as mãos a medir-me a testa e o resto sombra, para que não perceba o teu lacrimejar, gotas de mar mediterrâneo que me prende ainda mais à vida, e tenho medo, tu sabes que tenho medo e sorris
(a manhã perpetuando as horas na esperança que venha saudá-la para me deixar mais uma pequena brisa de vida, restaurar a cor da minha pele)
e tudo seria para mim tão patético e lamechas como um daqueles filmes que assistias aos domingos nos intervalos das nossas tardes de amor durante o inverno, mas agora tornou-se tão sério desde que ressacas dias e noites a contar a origem do fim.
Diz à manhã
(por favor)
que se deixe crescer, promete-lhe que os lírios levo-os comigo. E quando o corpo arrefecido, permite que o sol desfaça a sua curiosidade.
(por favor)
não acendas ainda a luz nem corras os estores, deixa marinar um pouco mais esta ressaca na sombra dos meus pesadelos mais recentes, tragados a fel de nostalgia e desespero. O dia fervilha de luz na ombreira da porta e a manhã, sabes
(a manhã que sempre me espantou com a sua boca delicada de lírios)
não iria continuar se me mostrasse plantado entre olheiras neste rosto de granito. Chovesse talvez
(essas pérolas que ainda me adoçam a alma)
e estenderia a mão afugentando o fumo dos cigarros para ver as vidraças tristes, mas bem vês que não há chuva ou correm nuvens de oeste, nem sequer nevoeiros que me ajudem a suportar devagarinho os nós e as correntes que me afligem, a levantar-me desta preguiça visceral de medo, de tudo o que já não ouso respirar. Há o sol
(perguntando duvidoso nos estores da janela)
que aguenta a manhã no brilho das flores e eu sem coragem para te oferecer um beijo, dizer que te amo como se bom dia, qualquer coisa que
(vais dizer-me que não há motivos)
pudesse fazer ou dizer para que não temas, não receies. E não te afastes. Não vejo o teu rosto, bem sei, mas sinto-te o olhar gritando e nos lábios o mesmo fervilhar do sol lá fora nesta manhã de verão. Tudo arde e grita e ama e a minha pele acinzenta-se com golpes de solidão
(a manhã perpetuando as horas na esperança que)
e dizem-me mais uns dias, num risco de voz trémula
(com pena?)
como se isso não fosse o bastante para contar uma eternidade, desde que te sinta as mãos a medir-me a testa e o resto sombra, para que não perceba o teu lacrimejar, gotas de mar mediterrâneo que me prende ainda mais à vida, e tenho medo, tu sabes que tenho medo e sorris
(a manhã perpetuando as horas na esperança que venha saudá-la para me deixar mais uma pequena brisa de vida, restaurar a cor da minha pele)
e tudo seria para mim tão patético e lamechas como um daqueles filmes que assistias aos domingos nos intervalos das nossas tardes de amor durante o inverno, mas agora tornou-se tão sério desde que ressacas dias e noites a contar a origem do fim.
Diz à manhã
(por favor)
que se deixe crescer, promete-lhe que os lírios levo-os comigo. E quando o corpo arrefecido, permite que o sol desfaça a sua curiosidade.
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