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foto de Elina Garipova |
Só em sonhos posso recordar a maciez dos teus cabelos da cor do feno. Cansaram-se os anos dentro de nós, afastaram-se os olhares, as vontades, os interesses em comum. Podia dizer-te morta e a mim viúvo, mas nem isso restou. Apenas os sonhos onde posso dar largas ao desejo de te ter com os cabelos abertos sobre a minha almofada. O sabor de amoras na tua língua. O perfume de rosas no peito. E a pele muito jovem, sedosa, como as pétalas da manhã. Amei-te, foste minha. Foste como um membro que perdi numa qualquer guerra de amores
(não sei, já não me recordo bem).
Como seria um reencontro? Rosário de rugas e maleitas? Saber que outras mãos nos afagam os corpos? Verificar o tempo ignorado ao exclamar "como estás diferente!"?
Prefiro o sonho, onde retornas a plantar o verão fecundo na minha cama. Murmurando, viril, num andamento eterno,
(porque eu acredito que os sonhos podem eternizar-se),
o teu nome: Daphne.
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