confirmação


foto de Andreas Jorns

- Vens a quê?
- Ver-te.
- Porquê?
- Para saber-te.
- De…?
- De tudo o que não foste.

Não me procures nas entrelinhas do que fui. Levei-me para parte incerta debulhando lágrimas imperfeitas a reprimir os insultos e a raiva. Deixei a vontade do reencontro numa página qualquer germinando dúvidas inócuas sobre o tempo perdido.

Não te levantes, não vais sair daqui. Espera que a bátega cumpra o seu objectivo principal: regar o passado para que a memória não se perca. Nem imaginas o quão doloroso é a memória perdida.

- Vens para ficar?
- Não. Serei breve.
- Se calhar não devias…
- Não digas o que devo fazer.

Podes deixar correr as lágrimas desde que a distância continue a separar-nos. Desde que não seja eu a colhê-las entre as minhas mãos já estéreis. Isolei o desejo dos teus beijos numa sombra de parede onde nem sol nem luar. Deslocando o olhar vagaroso, estendido para lá do horizonte.

Vá, suspira agora – isso. É por pouco tempo, e tudo ficará bem, depois o nada de qualquer coisa. Deixa-me apenas ler-te.

- E não dizes nada.
- Apenas ver-te. Ler-te.

Entendo o teu rosto como uma pauta vazia. As tuas mãos atrapalhadíssimas com a chávena do café. O teu olhar imitando os dias mais tristes. E confirmo o coração empedernido.

- Então é só isto que querias?
- Larga-me a mão, por favor.
- E vais…?
- Já não volto.

Não me acenes, não estou a olhar.

Comentários

delírios mais velados