ainda humidade



Quantos fantasmas? São falanges que se alongam na sombra, tenebrosas, tantas quantos são os medos, anseios, receios? 

Os espectros lá fora confundem-te a visão, como se teus olhos de insuficiente dioptria. Os vidros da janela embaciando com vagar e não há sinal algum que o sol ainda possa aquecer-te na queda da tarde. Mesmo assim ages pela vontade de aqui estares, e sais, nariz espetado ao frio que detestas e te contraria o espírito. 

A mantinha sobre as pernas, o bocejo, a chávena quente: deixas tudo isso para outra ocasião. Não te queria só, com as aventuras que te vendem na televisão – dirás, quando chegares. Estarei de braços abertos. Os estores continuarão cerrados para uma maior intimidade, acrescida daquele conforto de só nós dois. 

Amanhã desejamos que a terra sem lágrimas ou engelho. Recebo-te com um beijo para que sorrias e nunca desistas dessa contracção. Encostas a tua fronte no meu peito, os braços e as mãos a divagar por segundos no ar, caindo depois, vencidos pela fragilidade de tanto deste mundo. Eu dou início a uma paciência de horas. 

As janelas já mais húmidas e, mesmo sem a questão de dioptrias, um véu sobre o teu olhar, a dialogar humidade com os vidros que não resistem às variações de temperatura por fora e por dentro. Como tu. E disseste tanta vez que eu constantemente a precisar de cuidados. 

Serás um nada 

(ou assombro do que havias de ser)

quando vivendo apenas movida por altruísmo para com os outros. Enxuga os olhos, não me engelhes a camisa.

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