asterónimo

foto de Luiza Boldeanu



Amedronta-vos o que possa ele ser ou fazer na circunstância ausente de vós, quando o vosso temor havia de preocupar-se com o espectro do que é ele feito e age somente na vossa presença. Pouco do que diz é real ou quotidiano, não serve os dias programados até determinado objecto. Não tem uma história de amor que o cerceie da vontade imensa de outras histórias semelhantes habitar, pela mão casual da geografia dispersa das suas emoções.

Nesse particular sucede-lhe a lei física e aparentemente caótica de como sopram os ventos. Da brisa ao furacão, há de tudo incerto. Ora rodopia, ora acaricia rostos e cabelos, ora como punho cerrado remata corpos contra os muros, ora faz planura em céu aberto por asas pasmadas de sonho. Vem como um único de cada vez, sempre diferente no discurso, sempre indolente quando calado ou de costas voltadas. Entoa palavras idílicas com limpidez de serafim no primeiro momento para, no seguinte, e com o mesmo furor, guturalmente cuspir vitupérios à razão de imunda sarjeta.

Não o procureis quando não está em vós. Concebei-vos livres, com o espírito limpo do que é mundano. Tereis então sempre a chave que abre a porta do seu livro que estará sempre por ler, desde a primeira página. Quando vos cansar a leitura, não tereis necessidade de fechar o livro e esquecê-lo numa estante de pó. Tem a invulgar característica de se esfumar, dando paz às almas que deixam de o seguir, com um beijo de brisa na fronte, augurando longa e boa vida. Porém, ceder ao cliché de recordá-lo em estrelas distantes já só será absurdo, e patético também.

Evocai o seu nome apenas quando descerdes à vossa cova funda da terra.

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