pouco ou tanto


«Hoje é de um beijo que preciso
Sem discursos, sem porquês»



Sem curta ou longa distância, só a contar com o olhar inquieto de tantos dias vazios, deixando subir o impulso de tudo ter e, sem hesitar, esmagando por sofreguidão nos nossos lábios o que há-de ser de nós. Um beijo de fogo e ternura, ignorando tempo e lugar, naufragar os corpos de afagos, sem acenos, escusando a efemeridade. Pertencer a um amor que de tudo se ausenta, suspenso nessa liquidez das bocas comungando. Ter o espírito infalível às agruras, aos temores, os braços contestando o desequilíbrio, a mente a impugnar a auto-comiseração. Ter o apetite livre do suicídio físico ou moral. 

Estar num beijo, sem entretanto nem porém, para tudo haver o que os corpos por longo tempo desejaram contra a imaterialidade de qualquer razão propensa ao mundo que os condene, que nenhuma má fé possa nunca superar. Mãos no rosto, dedos entre os cabelos, e os olhos frente a frente desistindo de segurar a convulsão de tanta saudade, e a matar, a matar, o pouco ou tanto que somos agora, a mitigar a tristeza de não sabermos, por desconhecer o nada, o que poderá haver afinal depois do amor.


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