síndrome de bartleby versão 3
desenho de Leandro Lopes |
The end of laughter and soft lies
The end of everything that dies
James Douglas Morrison
Não estou capaz de evadir-me para escrever. Passo avesso ao riso, ao pranto, à emoção, à empatia. Como em mim nada é. Se engenho tive um dia, ou se as palavras alguma vez me foram parentes, é absoluta a minha inadequação actual e a orfandade de que possivelmente já sou vítima há muito tempo
(ou desde sempre).
Sou obrigado a concordar com quem eu lhe seja indiferente, ou, remotamente, por motivo sórdido e sem exemplo, com quem sofra a culpa de uma pequena inveja do que já fui capaz: que não vale a pena consumir palavras se não são os actos que lhes fazem jus. Ficarei ridículo a dissertar substantivos sobre não-questões. E assim me quedo a poupar os pormenores quando o que poderia dizer não seria por maior importância.
Vou daqui mudo, a engavetar o pensamento num murmúrio quase inaudível de efemeridade.
Quando – ou se! – outros tempos chegarem, talvez que já nem seja uma esferográfica a discorrer. Provavelmente apenas ver-me-ei a mim mesmo lutando por sobreviver numa areia movediça, de cuja matéria não posso pois agora prever de que será feita
(imagino mas prefiro continuar-me calando).
Fecundo mediocridade e, nesse estado, ainda que fecundado, nenhum ovo alguma vez eclodirá.
Não venham acenar-me: não quero ver nem ouvir vossas bocas postas em “O”. Vou partir de costas voltadas, como se o
(este)
mundo em nada
(ou alguma vez)
tivesse sido importante para mim.
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