lugar perdido


foto de Alberto Calheiros em 1000 imagens


É a brisa que traz até mim o perfume dos teus cabelos, o perfume que nunca senti, que não conheço. É a memória do teu rosto que faz doer dentro do meu peito um fogo que consome as tardes. É a noite em que te busco cego sem sair deste lugar onde escrevo sem lua sem estrelas, sabendo que não vou encontrar-te. Há um bocejo, a ponte, o rio, cidade onde tudo é nada, mas principalmente um beijo que dos teus olhos chega até mim como flor que perde as suas pétalas, em forma de dúvida: a questão de saber o que queremos.

Sei já que sabes que mesmo no nada sabemos um do outro. Sabemos desta fresca manhã que desperta no cruzar fugaz dos olhares. Sabes já tanto quanto eu que a tua mão permanecerá fria. Que o calor do meu peito não te aconchegará. Que de ambos o afago não tocará nem de leve nossos corpos.

Não é culpa nossa sejas tu tão bela e eu homem tão apaixonado. Não é culpa nossa a ironia do tempo nem as contradições da natureza. O que somos perante o sentimento que nos une? Duas almas tristes, duas bocas frágeis de palavras isentas do beijo que os olhares trocaram proibidos, duas mãos que se não tocarão jamais, que de si nada conhecem senão desejos, dois corpos que nunca se encontrarão, à deriva num espaço frio e cinzento. Não é culpa nossa este amor encarcerado na confusa gargalhada de um deus. Serena tu, que a minha revolta repousa já conformada. Seremos nós culpados pela terra árida onde deitamos este sonho a crescer, mas onde tudo murcha e perece?

Nunca te tive nos braços e já eras minha. Cerravas os olhos devagarinho como se a polpa dos meus dedos te tocasse levemente, todas as manhãs, numa carícia longa e suave, no traço do teu rosto. Nunca te falei de amor e já me amavas recolhida nos teus sorrisos. Não te vi o corpo e já eras deusa minha. Nunca soube quem eras, não sei quem és ou quem serás E sabia como amar-te, como proteger-te. Como dizer-te o azul e o sol.

Sabia-te e mostrava-te, em sonhos de poeta, minha musa, amante, mulher.

Comentários

Inês Leitão disse…
Brincar, ás casinhas nos jazigos.

cheers
Hmmm... Inês, isso quer dizer que o texto deste post é também, como eu disse quanto à frase escolhida para o post anterior, nada de especial?

delírios mais velados