síndrome de Bartleby
Nas ideias um oco, sobeja o silêncio branco de nada dizer, apenas o princípio de qualquer coisa que nunca chega a ser coisa alguma. E os papéis acumulam-se vomitados sobre o cesto. Tantas frases mal começadas, tantos riscos, letras amontoadas como sucata reciclada. Não será por acaso: os jornais afinal são também assim, verborreias descartáveis. O que se disse ontem já não tem valor hoje. É o que se consome, o imediato. Tudo o resto fica na berma do prato, quiçá alimento para rafeiros magros de solidão. Somos como cães danados à procura de certezas, de perfeição.
Ao acabar o cigarro tudo na mesma: a esferográfica paralisa num A
(e porque será o A uma letra tão importante que paralisa assim a esferográfica, que atrofia as ideias até ao osso?)
encontrando a barreira do eco e da repetição
(estou cansado, estou cansado, estou cansado)
num novelo de desagrado, de impaciência, a desistir de tudo enrolando a bola tosca de papel que salta para o cesto do lixo, levando mais meia dúzia de letras, palavras mal escolhidas, frases por completar.
Cumpra-se a matéria urgente do amor, era o mote. Mas do amor quem daí quer ouvir ou ler o que for? Direi pois o quê? Com todos estes livros por ler e o cesto dos papéis aguentando a frustração de tantos As
(ases?)
que nem para um baralho de cartas do solitário servirão.
Comentários
um beijinho
r
Agora, essa música que colocaste de fundo, eu me apaixonei. Nunca tinha ouvido dirty three, me atingiu em cheio. Estou baixando o Ocean Songs agora. Vc tem alguma coisa deles ou sabe onde encontrar?
abraços e parabéns pelo blog