das tuas mãos
Morrerei só, por Armindo Dias em 1000 imagens
E então lembrei-me das tuas mãos. Pequenas, acanhadas, a contar um rosário. E no entanto, tão longas para guardarem segredos de toda uma vida. Graciosas estendidas ao sol. Ansiosas quando tocando a transparência do vidro da janela cravejada de chuva. Pequenas mãos onde pulsava a terra e o hálito e o beijo nunca saciado.
O que tacteiam hoje não sei dizer. Remexem a terra das azáleas enquanto a chuva desnorteia a velocidade dos automóveis? Conduzem um filho que te sorri agradecendo amparo? Desenhando a forma de novos amores em sucessivos êxtases que jamais conhecerei? Quantos cadernos encheram de riscos e traços os esquissos de uma tela? Medram no calor dos trópicos ou fenecem enrugadas numa agrura qualquer da tua vida?
Não são saudades. E deixou há muito de ser amor. Apenas a memória vaga das tuas mãos que alimentavam os meus cabelos, adormecendo as tardes quando me encontravas perdido e embriagado numa valeta qualquer.
Queria muito que as tuas mãos deixassem de ser as tuas. Para ser as de alguém que me desse só mais esta oportunidade.
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