onde foi?
fotografia de Marta Glinska (daqui)
Onde foi que coloquei o molho de chaves, o telemóvel cansado de riscos, e o casaco desatinado com o frio e com a chuva, enquanto te ouço esvoaçar cozinha fora, entre os odores das especiarias? Ferveste tudo no mesmo jantar à luz da vela do alabastro?
As pernas obrigam-me para o sofá, sem obedecer a qualquer vontade minha de te recolher pelas ancas e afagar-te um beijo no teu longo pescoço. Provavelmente tu com as mãos molhadas sob a chuva da torneira aninhando um pé de alface
(e o meu casaco desatinado com o frio e com a chuva).
É o copo do whisky sem razão qualquer, é um jornal poisado com cheiro a tinta, como quem abre uma gaveta com roupa por estrear e saber
- É nova!
Onde foi que coloquei os cigarros que me consomes com duas ou três fumaças entre os teus dedos longos
(num deles um pedacinho de salsa perdida);
e onde está o sofá a que as minhas pernas obrigam, sem obedecer a qualquer vontade minha de te resgatar às caçarolas com um gesto brusco, ordenando o espaço da mesa com uma braçada de filme erótico
(lugar comum)
no intuito de procurar onde o forno, onde o calor, onde a cozedura do teu corpo estalando lamechas refogadas pelo meu, não sei onde
(o meu casaco desatinado com o frio e com a chuva)
não sei onde as chaves e o telemóvel cansado de riscos, e o comando da televisão a ronronar ao lado do tremelique das caçarolas.
Onde foi que me coloquei, para não me veres chegar assim a casa, com o olhar esgotado e as minhas pernas
(sem obedecer a qualquer vontade minha)
agachadas com o choro convulsivo de um
- Onde é que tudo isto começou para acabar assim?
As pernas obrigam-me para o sofá, sem obedecer a qualquer vontade minha de te recolher pelas ancas e afagar-te um beijo no teu longo pescoço. Provavelmente tu com as mãos molhadas sob a chuva da torneira aninhando um pé de alface
(e o meu casaco desatinado com o frio e com a chuva).
É o copo do whisky sem razão qualquer, é um jornal poisado com cheiro a tinta, como quem abre uma gaveta com roupa por estrear e saber
- É nova!
Onde foi que coloquei os cigarros que me consomes com duas ou três fumaças entre os teus dedos longos
(num deles um pedacinho de salsa perdida);
e onde está o sofá a que as minhas pernas obrigam, sem obedecer a qualquer vontade minha de te resgatar às caçarolas com um gesto brusco, ordenando o espaço da mesa com uma braçada de filme erótico
(lugar comum)
no intuito de procurar onde o forno, onde o calor, onde a cozedura do teu corpo estalando lamechas refogadas pelo meu, não sei onde
(o meu casaco desatinado com o frio e com a chuva)
não sei onde as chaves e o telemóvel cansado de riscos, e o comando da televisão a ronronar ao lado do tremelique das caçarolas.
Onde foi que me coloquei, para não me veres chegar assim a casa, com o olhar esgotado e as minhas pernas
(sem obedecer a qualquer vontade minha)
agachadas com o choro convulsivo de um
- Onde é que tudo isto começou para acabar assim?
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